Docente da ESS e investigador Professor Raul Lima
A poluição luminosa tem sido matéria ainda pouco debatida pela sociedade, apesar da comunidade científica que a investiga tentar, um pouco por todo o mundo, relevar os seus impactos. Se até há uns anos a preocupação única do excesso de luz artificial era aquela que dizia respeito aos efeitos negativos na astronomia - e, por essa razão, muitas vezes desvalorizada -, são hoje conhecidos diversos impactos negativos importantes quer no ambiente quer, muito em particular, na saúde.
A Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (ESS/PPorto) tem efetuado investigação na área da poluição luminosa e da propagação da luz artificial na atmosfera e tem, simultaneamente, acompanhado e procurado intervir por forma a consciencializar a sociedade civil dos benefícios de uma iluminação cuidada, não excessiva, e com a temperatura de cor correta. O docente e investigador da ESS/PPorto nesta área, Raul Lima (Física), responsável pelas medições do brilho do céu que foram utilizadas para a classificação da Reserva Starlight Tourism Destination Dark Sky Alqueva, foi um dos dois membros nacionais da Comissão de Gestão da Rede Europeia de Investigação COST ES1204 LoNNe (Loss of the Night Network), rede que terminou em outubro último a sua atividade (2012-2016) e que divulga, hoje, um comunicado de imprensa e um conjunto de recomendações, na forma de folhetos, que torna públicos na sua página web. O comunicado de imprensa da LoNNe, difundido em diversos países europeus e em várias línguas, espera-se que seja mais uma contribuição para a consciencialização sobre o problema da poluição luminosa e do uso indiscriminado da luz artificial à noite.
Esses folhetos e outras informações adicionais podem ser encontrados aqui.
Apesar do período financiado da rede LoNNe ter terminado, os seus investigadores decidiram na reunião final (setembro 2016, Roménia) continuar a trabalhar em conjunto.
São cada vez em maior número os estudos que revelam que os efeitos na saúde vão para além daquilo que se poderia há alguns anos supor. Efetivamente, se as perturbações em várias espécies de fauna são conhecidas há algum tempo (aves migradoras ou residentes em cidades, tartarugas, morcegos e outras espécies noturnas), no Homem a suspeita de efeitos graves tem sido posta em evidência por vários estudos. Os comprimentos de onda da radiação visível mais próximos do azul (500 nm) têm-se revelado potencialmente prejudiciais em certas condições, particularmente de noite. Vários estudos têm revelado uma associação entre a exposição noturna à luz com esses comprimentos de onda e um aumento de probabilidade de, por exemplo, desenvolvimento de diabetes, obesidade e mesmo alguns tipos de cancro (mama e próstata). A rápida penetração dos LED na iluminação pública e particular, bem como o uso de tablets, smartphones, computadores ou televisões LED, veio acompanhada por uma crescente preocupação por parte da comunidade científica nesta área pois a maior parte dos LED aí utilizados possuem um espectro especialmente rico em azul. É fundamental, por isso, a continuação do estudo dos efeitos da iluminação na saúde e no ambiente, e a ESS manter-se-á ativa nessa área. As imagens de satélite comprovam que Portugal, em particular o litoral, é dos países que mais iluminação pública usa e desperdiça. Uma utilização racional e informada da luz artificial é, assim, fundamental para a saúde, o ambiente, a sustentabilidade e uso dos recursos naturais, a economia e para o próprio usufruto da Natureza e da luz das estrelas, direito consagrado pela Declaração Starlight (2007).